- No Silêncio...

 

É no silêncio que fluem nossos sentimentos
É no silêncio que sonhamos
É no silêncio que nos encontramos
É no silêncio que escutamos:

O canto dos pássaros
O farfalhar das folhas
Os sons dos amores
O pulsar do coração.

O tom da sinfonia
O riso da alegria
O ruído da ventania
O murmúrio da oração.

No silêncio compomos uma canção
No silêncio vivenciamos nossas emoções
No silêncio ouvimos peitos arfantes
No silêncio sentimos o ressonar dos amantes.
 

- Sem Palavras

No início um verso
sem palavras, não havia verbos
confuso..., difuso...., disperso.

Fulgentes olhares noturnos
Sussurros quase mudos
Numa fria noite vazia

Em minhas mãos
Um papel rabiscado
Com cuidado ao seu dispor

Me entreguei vulnerável
Embevecido que sou
Ao que nele estava escrito

Nada havia em mim
Que impedisse o meu expressar
Se comecei teria que terminar

Origem de um gostar agradável
De uma afável convivência
Conceitual, gestual e difusa

Não tive mais paciência
E de tantas angústias
Só fiz me entregar a poesia
Loucura ou confusa, não sei

Algo que não se domina
Um dia se aprende
Se errar se arrepende
Se não tentar não se sabe.

- Não Sou...

Não existirão correntes que me amarre.
Não existirão muros instransponíveis.
Não existirão diferenças abissais.
Não existirão humilhações suficientes.
Capazes de fazer-me desistir.


Ainda que as lágrimas,
Quebrem os cristais
E, os encantos que se desfaçam.
Ainda que haja os calvários,
Vivos na memória,
Tatuando dores no expoente
mais perto do sol.

Ainda que exista a tortura.
De não ser mais amado.
Ou de nunca ter sido amado.
Ou de nunca ter se permitido amar.

Ainda que exista a latente vontade
Que morre exatamente quando acordamos

Queria novamente os seus olhos.
Queria novamente ter as
suas mãos em minhas mãos.
Num contato cúmplice sem palavras,
Sem gestos e sem olhares...
Sem nada.


Queria novamente um corpo emprestado
E sem alma
Um alojamento inesperado
Tépido e mórbido.
Para dormir a noite com a ilusão.
E, acorda queimando
pelo raiar das manhãs.


Queria novamente sonhar
Com o improvável,
o impossível e o
inverídico.
Como a mutação genética, histórica e
temporal de tudo
Em sua vida,
Em minha vida,
Em vidas que não conheci.


Retirar tudo que ficou.
Naquilo que impregnou  as paredes da sala.
No cheiro da cozinha.
No degrau gasto da escada que não
vai a lugar nenhum...


Ao mesmo tempo em que queria
Sei que definitivamente não seria o melhor
E nem diferente.
Não seria bom ou decente.


Abro os braços e produzo
Meu próprio crucifixo
Em e com meu corpo
Em unção extrema.
Entregue ao infinito derramado
pelos dias vividos.
Vistos pela a miopia
de olhos errantes.


Abro minha mente.
Para todos os ventos,
Todas as tempestades,
Para todas as forças da natureza.


Para a correnteza das vontades,
Para a violência dos bofetões,
Para a vida e
paradoxos.

E a dinâmica pendular
da intensidade.
A começar e terminar sensações
sem sair do lugar.
Num só tempo
Numa só razão ou desrazão.


Assim, o corpo em crucifixo.
A mente aberta em primavera plena.
O espírito despontando do alto da montanha.
E numa reverência eterna paira o espírito sobre
desejo.
E, ainda ousa adivinhar quem sou.
Não sou.

- Pensamentos Dispersos

Grilhões prendem
Machucam os pés
E não há emoção
Luta com a razão
E se dispersa em pensamento
Em revelado  descontento
Leve brisa em transformação
Virando um terrível furacão
Pó varrido pra debaixo do tapete
Como viver assim sem limpeza
Sujeira encobrindo a pureza
É como a voz cantada em falsete
Sem a devida beleza se rende
Se esconde, desprende
Caem as joias falsas
Dentre tantas valsas
O chão cheio de pedraria
Sem brilho, pura bijuteria
Coloridos vidros quebrados
Fincados em pés machucados.